Teoria


Um dos capítulos mais intrigantes da Física é o destinado ao estudo do espectro de um corpo negro. Foi através do estudo deste espectro que nasceu a mecânica quântica. O corpo negro apresenta um espectro continuo e universal dependendo apenas da temperatura. É fácil compreender porque ele apresenta um espectro continuo e universal, se considerarmos a definição que normalmente atribuímos a “cor” de um corpo. Quando dizemos que um corpo é vermelho, estamos querendo dizer que este corpo absorve toda a radiação incidente sobre ele exceto o vermelho. Um corpo é branco aquele que reflete toda radiação incidente, assim um corpo negro absorve toda radiação incidente sobre ele. Ou seja, é um absorvedor ideal ou ainda um emissor perfeito. Dizemos que o seu coeficiente de emissividade é igual a 1.
Um exemplo de corpo negro ideal é uma cavidade ou um buraco, na cavidade não há o que ser refletido, tudo que incide na cavidade é absorvido. Uma analogia interessante que se pode fazer é a “toca” portátil do coelho Pernalonga. Neste desenho animado, para aqueles que se recordam dele, o astuto coelho quando se encontra em perigo lançava ao chão a abertura de sua toca e se abria um buraco através do qual ele desaparecia!!

Fig.01:Toca do Pernalonga! Buraco ou cavidade é um corpo negro ideal

Para se construir um corpo negro em laboratório, utiliza-se um forno com uma pequena cavidade. O forno é então aquecido e para manter sua temperatura constante a radiação atravessa a cavidade onde sensores são dispostos para a análise do seu espectro. A radiação fica confinada no interior do forno sendo refletida pelas paredes, gerando ondas estacionárias.



Fig.02: Radiação confinada no interior do forno, sendo refletida pelas paredes, gerando ondas estacionarias. http://www.rc.unesp.br/igce/fisica/plank.htm

A fig.03 fornece alguns espectros observados para um corpo negro em diferentes temperaturas:



Fig.03: espectro de um corpo negro em diferentes temperaturas



LEI DE STEFAN-BOLTZMANN E LEI DE WIEN 


A partir da observação espectral duas leis empíricas foram evidenciadas:
1.    Observa-se que a área total da curva que corresponde à intensidade total da radiação emitida, é proporcional a T4. Esta é a Lei de Stefan-Boltzmann e mais precisamente temos que:
                                                     Intensidade total= sT4
s=5,67 x 10–8 W/m2K4
2.    Observa-se que o ponto de intensidade máxima na curva desloca-se para comprimentos de ondas menores com o aumento de temperatura. Esta é a Lei de Wien,temos que;
lmaxT=2.898·10-3 m·K
As figuras mostram, três temperaturas diferentes para um corpo negro utilizando um simulador disponível no linkhttp://fisicamodernaexperimental.blogspot.com/2009/04/radiacao-do-corpo-negro-mais-um.html.
Para acessar diretamente o simulador clique sobre as figuras


Lâmpada de Filamento
Em geral podemos estudar a lei de Stefan-Boltzmann e a Lei de Wien a partir de uma lâmpada de filamento. Um filamento pode ser utilizado por ser considerado como um corpo cinza. O texto retirado de um artigo publicado na Revista Brasileira de Ensino de Física (Cavalcante &Haag, 2005) explica o que se entende por um corpo cinza:
Em geral os corpos reais não são perfeitos absorvedores da radiação, portanto a intensidade espectral I(l,T) é dada por:


Onde o fator e(l,T) é chamado emissividade espectral  (ou simplesmente emissividade) e  ICN corresponde a potência emitida pelo corpo negro, por unidade de área, por unidade de comprimento de onda, em um intervalo de comprimento de onda dlem torno de l.
A emissividade espectral e(l,T), quase sempre é uma função do comprimento de onda e da temperatura e tem valores no intervalo de 0 (para um refletor perfeito) a 1 (absorvedor perfeito) e por esta razão é uma quantidade que dificilmente pode ser determinada experimentalmente, geralmente ela é estimada empiricamente para cada objeto.
Como a lei de Stefan-Boltzmann é obtida a partir da integração da radiância espectral para uma dada temperatura, para garantir sua verificação experimental, a emissividade espectral e(l,T), não pode depender muito da temperatura, nem tão pouco do comprimento de onda. Se esta condição for satisfeita a lei de Stefan-Boltzmann poderá ser reescrita como:
eTsT4  
De acordo com a lei de Stefan-Boltzmann, a energia emitida por um corpo negro é proporcional à quarta potência da temperatura absoluta do corpo. A lei de Stefan-Boltzmann também é válida para os corpos conhecidos como corpos “cinza”, cuja superfície exibe um coeficiente de absorção menor que 1 e independente do comprimento de onda.
No experimento proposto utilizaremos um filamento de tungstenio de uma lampada que dentro de aproximações comporta-se como um corpo cinza”.

Teoria de Planck

Para tentar explicar o espectro emitido por um corpo negro surgiram duas teorias anteriores a proposta de Planck: Teoria de Wien e a teoria de Rayleigh-Jeans. Segundo Cavalcante,M.A & Tavolaro, C.R.C 2007, temos que:

....“Uma primeira tentativa foi feita por Wilhem Wien em 1894, para Wien ao aquecer o recipiente, aumentamos o grau de agitação dos átomos que constitui a parede do forno (ou cavidade) e os elétrons dos mesmos oscilarão cada um numa dada frequência , emitindo assim  a radiação eletromagnética.  Wien calculou, então a energia de oscilação que cada um desses elétrons poderia ter. Os resultados obtidos a partir de sua equação  concordavam muito bem com as curvas experimentais, para pequenos valores de comprimento de onda (de 1 a 3 x 10-4cm), mas para comprimentos de onda maiores os resultados de Wien prevêem valores muito pequenos para a intensidade de radiação. Além disso os resultados obtidos por Wien também falham para os limites de altas temperaturas quando comparados com aos resultados experimentais. Segundo a lei obtida por Wien a intensidade de radiação emitida deveria ser infinitamente maior quando a temperatura aumenta. Apesar disso, Wien conseguiu escrever uma lei empírica (baseada apenas nos resultados experimentais) que mostra uma proporcionalidade entre a frequência na qual a radiação emitida tem intensidade máxima e a temperatura do corpo, isto é: 
lmaxT=2.898·10-3 m·K
Este resultado é conhecido como a lei do deslocamento de Wien, que mostra porque um corpo, ao ser aquecido, tem a intensidade da radiação máxima emitida deslocando-se da região vermelha para a região do azul do espectro eletromagnético.
Outro resultado bastante interessante foi o obtido empiricamente por Stefan - Boltzman, que explica o fato de termos um aumento considerável para a intensidade total da radiação emitida pelo corpo negro com o aumento de temperatura, (fato este observável com o filamento da lâmpada para o qual a intensidade da radiação total emitida cresce com o aumento da temperatura do filamento)
Uma segunda tentativa foi feita por Rayleigh e Jeans, por volta de 1900.  O trabalho deles consistiu em calcular quantas ondas eletromagnéticas estacionárias, isto é, com nós nas paredes do recipiente, poderiam se formar para cada uma das freqüências. Baseados em conceitos termodinâmicos calcularam a energia total média dessas ondas, isto é, essa energia dependia apenas da temperatura de aquecimento do recipiente.  Ao multiplicar o número de ondas estacionárias pela energia total média dessas ondas, e dividindo pelo volume do recipiente obtiveram uma  equação  cujos resultados aparecem na curva da Fig.3.2.


Fig.3.2: Resultados Rayleight-Jeans e Wien. 

Os resultados coincidem apenas para freqüências baixas, justamente o contrário do que ocorreu com os resultados de Wien!  O desvio da Lei de Rayleigh e Jeans  ficou então conhecido por Catástrofe do ultravioleta!
Com essas duas tentativas de se construir um modelo teórico que explique o espectro do corpo negro, chega-se a um impasse:
ü  Não é possível obtermos  a equação que descreva os resultados experimentais?
ü  Onde está a falha nos modelos?
 Ainda em 1900, Max Planck conseguiu resolver o problema.  Na verdade Planck introduziu um postulado no modelo de Rayleigh e Jeans, isto é, o conceito introduzido não era conseqüente de nenhuma lei até então conhecida. O próprio Planck considerou seu postulado um "ato de desespero" escrevendo:  
"......eu sabia que o problema  é de fundamental importância para a física; eu sabia a fórmula que reproduz a distribuição de energia no espectro normal; uma interpretação teórica tinha que ser encontrada a qualquer custo, não interessando o quão alto."[1]
 De acordo com as leis conhecidas até então, os elétrons que oscilam nas paredes do recipiente,  poderiam oscilar com qualquer valor de energia, isto é, poderiam variar sua energia continuamente entre zero e um valor máximo.  É justamente esse conceito que Planck modifica ao introduzir seu postulado: para ele a energia do elétron deve ser quantizada, ou seja, a energia do elétron só pode variar em saltos; o elétron pode assumir alguns valores de energia como 0, DE, 2DE, 3DE, 4DE,........e ainda, esse salto de energia DE depende da frequência  n de oscilação do elétron.  Essa dependência escrita em forma de uma equação é dada por:
DE = h.n
onde h é uma constante de proporcionalidade que ficou conhecida por constante de Planck.



[1] Eisberg e Resnick pag. 42 /2a edição, Física Quântica- Ed. Campus






































Nenhum comentário:

Postar um comentário